Era uma quarta-feira,
quando cheguei à sala de aula muito feliz por ter feito um
texto sobre esporte, algo que não domino. Imediatamente, fui mostrar à
professora na expectativa de ouvir que o texto estava uma maravilha, excelente.
Enquanto aguardava a correção, distraí-me com o conteúdo da internet. Quando menos
esperei, ouvi:
- Karen, é a sua vez,
vamos corrigir o seu texto, disse a professora.
Pensei comigo, agora
vai! Está tudo certo, vamos partir para outra. Perguntei quais os mecanismos
para desenvolver um texto narrativo, que tema eu poderia utilizar. Mas, antes
de responder como eu faria o próximo trabalho, a professora sentou ao meu lado
e mostrou-me os pontos que eu precisava corrigir no meu texto sobre esporte. Fiquei
feliz pelo título que a professora aprovou, mas achei que seria um trabalhão
corrigir algo de que eu não dominava. No fim, deu tudo certo. Eu fiz o melhor
que pude.
Sobre o texto
narrativo, ao final da correção, a professora me deu tema livre. Fácil. Foi o
que imaginei. Logo, comecei a pensar em um para desenvolver uma boa pauta sobre
cultura. Nada me veio à mente, por isso comecei a procurar sugestões entre meus
colegas de trabalho. Ouvi diversas sugestões das quais não me agradei. Ouvi
falar de uma exposição de arte que acontecia em um hospital e me animei. Senti
vontade de conhecer, vivenciar e admirar aquela riqueza de detalhes, mas não
deu certo, pois a exposição estava acabando naquela semana, e por causa do
trabalho, não daria tempo de visitar aquela maravilha que vi em apenas pelo
Instagram.
Não perdi a esperança e
continuei procurando uma pauta da qual valesse a pena escrever De repente, uma
ideia, Santana do Parnaíba. E por que não visitar aquela cidade histórica no
objetivo de extrair algo construtivo e mostrar as riquezas de detalhes daquelas
casas construídas há anos e que não podem ser demolidas devido ao seu valor
cultural?
Achei que minha pauta
estava fechada até o momento em que acompanhei uma colega de trabalho num
compromisso. Era um local totalmente fora de mão do meu destino para casa, além
do forte sol e calor que faziam naquela tarde.
Não tinha noção da onde
estava indo, mas a vontade de conhecer mais da minha São Paulo era mais forte. Valeria
pela aventura. Chegamos ao destino final, a estação Clínicas, do Metrô. Por
alguns minutos, nos perdemos nas diversas saídas daquele labirinto, mas,
finalmente, conseguimos sair.
Conforme caminhávamos,
algo me roubou a atenção. Olhei por alguns minutos e me encantei. Era a
exposição ‘Memórias da Rua’, do fotógrafo Português, Miguel Castello. Ela
retrata a vida de moradores de rua. Naquele instante, Santana do Parnaíba ficou
para trás. José Aparecido Marquetto, morador de rua há 27 anos, um dos
personagens, me atraiu a atenção. Li seu depoimento abaixo da foto exposta. Naquelas
palavras que demonstravam força diante da situação em que vivia, pude enxergar
a alma daquele senhor, que apesar da dura condição de vida, demonstra ser rico
pela experiência e o amor à vida, que carrega.
Riqueza
em meio à pobreza
Após presenciar aquelas
imagens tão bem retratadas sobre os moradores de rua, fiquei mais vulnerável,
sensível à situação das pessoas que vivem nas ruas. Por onde ando, observo tudo
que passa diante dos meus olhos. Na semana passada, estive na estação da Sé, onde
avistei várias pessoas que moram nas ruas. Lembrei-me das imagens da exposição,
presas em minha mente. Senti a dor de não entender o porquê de tantas pessoas
naquela condição. De dentro do ônibus, em meio a tanta gente, enxerguei um
homem em uma cadeira de rodas e observei os inúmeros edifícios em redor.
“Quanta pobreza diante de tanta riqueza”. Esse era o meu pensamento.
Uma
lição de vida
Em meio à dor do que os
meus olhos enxergavam, carregava comigo a lembrança daquele jovem senhor
retratado naquela foto, cujas mãos estavam sobre a cabeça, como se estivesse
preocupado. Imagem que ficou desenhada em minha mente. Acredito que tenha sido
uma mensagem, uma lição de vida. Por dias ela ficou em meus pensamentos e imagino
que em outras mentes também, pois ao passar na estação Barra Funda, tornei a
ver aquela imagem. Estava grafitada no muro da estação, provavelmente, por
algum artista que vivenciou o mesmo que eu. Alguém que, como eu, absorveu a
mensagem daquele moço, que ansiava em deixar uma lição de vida, através do seu
otimismo e desejo de amar a vida.
Karen Salvador