Fernanda Alves: “Fiquei 8 anos nas drogas e cerca de 5 anos nas ruas de São Paulo”
Fernanda Alves, 33 anos, conheceu as drogas aos 15,
quando foi expulsa de casa pela mãe. Com isso, passou a morar nas ruas de São
Paulo onde comeu lixo, chegando a tentar o suicídio por diversas vezes.
Após muito sofrimento, a jovem decidiu dar um basta, encontrando apoio de
amigos que a ajudaram. Há 10 anos livre das drogas, é assessora parlamentar do
vereador Jean Madeira e um referencial do movimento “Juventude Contra o Crack”,
que ajuda recuperar jovens inserindo-os novamente à sociedade.
Karen Salvador: Fernanda, fale sobre o seu início nas
drogas?
FERNANDA
ALVES: Conheci as drogas (cigarro, álcool, maconha e mais tarde
cocaína, tinner e crack), aos 15 anos de idade. Tudo começou quando meu
ex-namorado, alguns amigos e eu fomos passear no parque da cidade, onde em um
momento de descontração, os meninos sumiram. Ao encontrá-los, os vi fumando
maconha e na curiosidade, pedi a eles que me deixassem experimentar. A princípio, eles
negaram. Foi então que ameacei contar o fato para as mães deles e por
medo, acabaram cedendo a minha chantagem. Foi uma experiência inesquecível. Mas, o que eu não sabia
é que aquela alegria momentânea me traria marcas terríveis
futuramente e uma vida de dependência.
KS: Quando se envolveu com as drogas como era seu
relacionamento familiar?
FERNANDA
ALVES: O convívio com a minha família era perfeito, mas quando conheci as
drogas passou a ser insuportável. Eu me tornei uma pessoa estúpida e minha
família sofria com as várias brigas que aconteciam durante as madrugadas. Até
os vizinhos se sentiam mal com a minha presença, pois eu brigava com todos por
motivos fúteis.
KS:
Você chegou a morar nas ruas. Como foi esse período?
FERNANDA
ALVES: Sim. Devido às várias brigas em casa, por acreditar que seria um bem
para a família, minha mãe me expulsou. Fiquei 8
anos nas drogas e cerca de 5 anos nas ruas de São Paulo. Foi muito doloroso
cada momento. Eu nunca havia sofrido tanto. Fui criada dentro de casa, minha
mãe sempre lutou para que eu e meus irmãos tivéssemos uma boa
educação, mas de uma forma brutal, eu tinha perdido tudo por causa das drogas. Não tinha mais ninguém. Para comer, tinha que pedir para
as pessoas que passavam na rua, mas quase não conseguia nada. Então, eu partia
para as lixeiras em busca da refeição do dia, às vezes, eu encontrava algo e
comia. Neste período, o lixo sempre foi a minha fonte: roupas, sapatos, roupas
íntimas, cremes para cabelos, produto de pele, resto de batons
e bijuterias. No entanto, essa "vaidade" foi sendo roubada,
quando o crack começou a mostrar do que ele era capaz. Passei a não me
preocupar mais com a higiene pessoal nem com mais nada, pois o lixo passou a
ser apenas fonte de alimentação. O vício roubou a minha família e depois roubou
o meu eu.
KS: Quando você decidiu parar qual foi sua maior
dificuldade?
FERNANDA
ALVES: Decidi parar quando um dia sem eu ao menos imaginar, alguns dos meus
"amigos" se voltaram contra mim. Era uma noite bonita e estrelada, eu
estava usando drogas num barraco muito pequenino, quando eles chegaram com
armas em punho. Armas grandes, como calibre 12 e pistolas automáticas,
dizendo que iriam me matar. Eu gritei muito e isso alertou os vizinhos, então,
eles saíram para "acalmar" a vizinhança, mas na calada da
noite, voltaram e encheram o barraco de tiros. No entanto, eu não me encontrava
mais no local, pois sem que notassem, sai daquele lugar após a saída deles e me
escondi na casa de uma vizinha, de onde ouvi tudo o que eles diziam. Naquele
momento, eu decidi que era hora de parar e dar mais valor a minha vida. Tive muitas dificuldades em me inserir novamente com
amigos e familiares, por exemplo. Mas minha maior luta foi mesmo
a abstinência. Eu sentia dores no corpo, estômago, garganta, tinha muitos
tremores e a voz sumia. Eu tive vontade de desistir, mas me lembrava daqueles
momentos de ameaça vida e do sofrimento.
KS: Você teve o apoio de alguém?
FERNANDA
ALVES: Sim. A princípio, tive o apoio de dois jovens, uma moça
chamada Simone e um rapaz, o Rodrigo. Os dois estavam muito decididos a
me ajudar, eles tiveram muita paciência, me ensinaram a ler a Bíblia e a ter
novamente um caráter de dignidade. São duas pessoas a quem devo muito
respeito, pois eles me mostram que eu poderia ter uma vida comum como a de
qualquer outro jovem, mas sem as drogas. Outras duas pessoas mais que especiais
também foram colocadas por Deus no meu caminhos, para abrilhantar a minha
história. O Erik Teixeira e sua esposa Marina, a quem considero como pai e mãe.
Recebi deles um amor que as drogas roubaram de mim e que eu jamais teria
conhecido, se ambos não tivessem me mostrado. Com eles, aprendi dia a dia a
respeitar e obter respeito. Agora, o
mais especial dentre todos os que a vida me trouxe, foi o pastor Jean Madeira
que acreditou em mim, na minha história de vida e ainda tem acreditado que eu
sempre posso ir além.
KS: Há quanto tempo você está livre das drogas?
FERNANDA
ALVES: São dez anos de liberdade e de muita alegria! Dez anos sem nenhuma
recaída, nenhuma vontade de voltar atrás.
KS: Como é sua vida hoje?
FERNANDA ALVES: Hoje eu vivo feliz ao lado da minha
família, curto o meu filho. Trabalho
como assistente parlamentar na Câmara Municipal de São Paulo e
atualmente, faço faculdade de serviço social. Moro com o meu filho e hoje
minha família é totalmente unida, não temos mais brigas em nosso lar.
Tenho a vida digna que a Simone e o Rodrigo me disseram que eu poderia
ter, aprendi a usar a fé em Deus e tenho alcançado os benefícios
dela. Minha maior paixão é ajudar os jovens a se livrarem das
drogas, por isso, faço um trabalho de orientação e prevenção junto com o
“Juventude Contra o Crack” nas casas de recuperação, além colaborar no
atendimento online.
KS:
O Movimento Juventude Contra o Crack é uma campanha que visa o combate às
drogas e que recentemente, recebeu o prêmio de Segurança Humana da ONU.
Como é para você ser a garota propaganda desse importante trabalho?
FERNANDA
ALVES: Não me considero garota propaganda, me considero mais uma guerreira que
abraça a causa! Acredito que o prêmio foi merecido devido ao grande
esforço de toda uma equipe que vem se esmerando há anos no trabalho de
prevenção e reintegração dos jovens à sociedade civil, antes mesmo da minha
chegada a ele. O prêmio foi merecidamente entregue nas mãos do pastor e
vereador Jean Madeira. Digo merecidamente porque jamais conheci um homem com um
objetivo tão firme quanto ele, que luta mais que suas próprias forças para
levar sonhos e realizações às pessoas que nunca tiveram uma
chance. Reforço as minhas palavras ditas a respeito dele
e acrescento, dizendo que para mim apenas um versículo explica e
demonstra o tamanho da minha admiração por ele: Mas a sua voz ressoa por toda a terra e as suas palavras
até os confins do mundo... que é como um noivo que sai de seu aposento e se
lança em sua carreira com a alegria de um herói. (Salmos 19:04 e 05)
KS: Deixe uma mensagem aos usuários que estão lutando
para se ver livre da dependência química:
FERNANDA ALVES: Cada um de vocês tem condições de mudar e
chegar onde quiser. É Deus que capacita e coloca as pessoas certas em sua vida.
Ele só precisa ver a sua disposição em servi-lo e aceitá-lo. Então, meu
amigo(a), fuja dos pensamentos de negatividade que diz que você não consegue e
coloque-se à disposição de Deus, que tudo pode. Foi Ele quem mudou a minha vida
e está disposto a mudar a sua também. Faça como eu! Decida enquanto ainda há
fôlego de vida em você. Uma
passagem jamais saiu da minha mente e eu quero que fique gravada na sua
também: "Olho nenhum viu,
ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles
que o amam"; (Romanos 8:28) Ame a Deus e deixe Ele agir em sua mente e transformar a
sua vida porque esse é o caminho da liberdade de todo e qualquer vício.
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